Usar celular demais pode causar dor e problemas ortopédicos


Adriano Vizoni/Folhapress
SAO PAULO - SP - BRASIL, 19-12-2015, 16h20: PERSONAGEM EQUILIBRIO. Retrato de Sabrina Ghetti, 15 anos, que sente dores quando usa o celular em posicoes desconfortaveis, como quando esta deitada na cama (Foto: Adriano Vizoni/Folhapress, EQUILIBRIO) ***EXCLUSIVO FSP***
Sabrina Ghetti, 15, que sente dores quando usa o celular em posições desconfortáveis


A estudante Beatriz Carvalho, 14, sentia muitas dores nas costas. Suspeitando de escoliose ou algo do tipo, procurou por um ortopedista. A causa de tanto transtorno? O uso intensivo do aparelho celular.
Ao digitar no celular, geralmente abaixamos a cabeça e tensionamos os ombros e braços para segurar o aparelho.
Um estudo publicado no periódico "Surgical Technology International" avaliou a tensão na coluna cervical -região do pescoço- conforme a inclinação da cabeça.
Em posição neutra, a cabeça de um adulto pesa entre 4,5 kg e 5,4 kg. À medida que a cabeça se inclina para baixo, o pescoço passa a sustentar cada vez mais peso. Quando a cabeça está inclinada 15º, por exemplo, o pescoço tem que suportar 12 kg. Quando a inclinação é de 30º, o pescoço tem que suportar cerca de 18 kg e quando a inclinação é de 60º, o pescoço suporta 27 kg, seis vezes mais do que o peso real da cabeça.
"Os músculos [da região do pescoço e dos ombros] ficam contraídos e pouco oxigenados. Isso traz dor e sensação de formigamento e queimação", diz a médica Liliana Jorge, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Além das dores, existe o risco do surgimento de lesões mais sérias. "A gente sabe de casos de pessoas que passaram muito tempo da vida com o pescoço inclinado e desenvolveram artrose", diz Liliana.
"Colocar a cabeça para baixo aumenta a cifose -curvatura- torácica. Esse desvio do eixo da coluna para frente sobrecarrega a lombar, uma região que tende ao desgaste com o passar do tempo", diz Christina May De Brito, coordenadora do Centro Reabilitação do Hospital Sírio-Libanês.
Há ainda o problema de ficar o dia inteiro digitando. "As pessoas passam horas navegando e sentem dores que são causadas por movimentos de repetição", diz Paulo Renato Fonseca, médico especialista em dor.
COMO VELHINHOS
"Passo o dia todo no celular. Acho que fico umas 10 horas por dia, no mínimo", diz a estudante Sabrina Ghetti, 15. "A gente acaba se curvando e nem percebe, parecemos uns velhinhos", diz.
Beatriz também diz conseguir ficar longe do celular. "Quando não estou nele, estou pensando no que está acontecendo de bom nele. Muitas vezes não acontece nada, mas continuo olhando", diz Beatriz.
Sabrina conta que, quando as dores estão fortes, ela se espreguiça e tenta fazer algum tipo de alongamento, mas reconhece que a correção da postura não dura muito tempo -e a dor retorna.
A recomendação geral de todos especialistas ouvidos pela Folha foi a de diminuir o uso do celular. "Mesmo se você corrigir a postura, o estrago pelo tempo que você passou digitando já foi feito", diz a médica Liliana Jorge.
O ortopedista procurado pela Beatriz chegou a prescrever um mês sem celular. Mas a estudante nem cogitou a possibilidade. "Nem tentei [ficar sem celular], mas comecei a fazer natação, porque o médico disse que ajudaria na dor", diz ela.
Como ficar sem o celular não é opção para muitas pessoas além de Beatriz, os médicos recomendam alguns cuidados: elevar o aparelho de modo que o centro da tela fique na altura dos olhos e, assim, não abaixar tanto a cabeça, e apoiar braços e antebraços para que não fiquem sobrecarregados.
Além disso, exercícios para fortalecimento dos músculos, como ioga, pilates ou até mesmo a tradicional musculação, podem ajudar.
O médico Luiz Fernando Cocco, coordenador de ortopedia do Hospital Samaritano, também recomenda pausas de 15 minutos cada vez que o usuário passar mais de 40 minutos mexendo no celular. 

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