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Usar celular demais pode causar dor e problemas ortopédicos
Adriano Vizoni/Folhapress | ||
Sabrina Ghetti, 15, que sente dores quando usa o celular em posições desconfortáveis |
GABRIELA MALTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A estudante Beatriz Carvalho, 14, sentia muitas dores nas costas.
Suspeitando de escoliose ou algo do tipo, procurou por um ortopedista. A
causa de tanto transtorno? O uso intensivo do aparelho celular.
Ao digitar no celular, geralmente abaixamos a cabeça e tensionamos os ombros e braços para segurar o aparelho.
Ao digitar no celular, geralmente abaixamos a cabeça e tensionamos os ombros e braços para segurar o aparelho.
Um estudo publicado no periódico "Surgical Technology International"
avaliou a tensão na coluna cervical -região do pescoço- conforme a
inclinação da cabeça.
Em posição neutra, a cabeça de um adulto pesa entre 4,5 kg e 5,4 kg. À
medida que a cabeça se inclina para baixo, o pescoço passa a sustentar
cada vez mais peso. Quando a cabeça está inclinada 15º, por exemplo, o
pescoço tem que suportar 12 kg. Quando a inclinação é de 30º, o pescoço
tem que suportar cerca de 18 kg e quando a inclinação é de 60º, o
pescoço suporta 27 kg, seis vezes mais do que o peso real da cabeça.
"Os músculos [da região do pescoço e dos ombros] ficam contraídos e
pouco oxigenados. Isso traz dor e sensação de formigamento e queimação",
diz a médica Liliana Jorge, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Além das dores, existe o risco do surgimento de lesões mais sérias. "A gente sabe de casos de pessoas que passaram muito tempo da vida com o pescoço inclinado e desenvolveram artrose", diz Liliana.
Além das dores, existe o risco do surgimento de lesões mais sérias. "A gente sabe de casos de pessoas que passaram muito tempo da vida com o pescoço inclinado e desenvolveram artrose", diz Liliana.
"Colocar a cabeça para baixo aumenta a cifose -curvatura- torácica. Esse
desvio do eixo da coluna para frente sobrecarrega a lombar, uma região
que tende ao desgaste com o passar do tempo", diz Christina May De
Brito, coordenadora do Centro Reabilitação do Hospital Sírio-Libanês.
Há ainda o problema de ficar o dia inteiro digitando. "As pessoas passam
horas navegando e sentem dores que são causadas por movimentos de
repetição", diz Paulo Renato Fonseca, médico especialista em dor.
COMO VELHINHOS
"Passo o dia todo no celular. Acho que fico umas 10 horas por dia, no
mínimo", diz a estudante Sabrina Ghetti, 15. "A gente acaba se curvando e
nem percebe, parecemos uns velhinhos", diz.
Beatriz também diz conseguir ficar longe do celular. "Quando não estou
nele, estou pensando no que está acontecendo de bom nele. Muitas vezes
não acontece nada, mas continuo olhando", diz Beatriz.
Sabrina conta que, quando as dores estão fortes, ela se espreguiça e
tenta fazer algum tipo de alongamento, mas reconhece que a correção da
postura não dura muito tempo -e a dor retorna.
A recomendação geral de todos especialistas ouvidos pela Folha foi a de
diminuir o uso do celular. "Mesmo se você corrigir a postura, o estrago
pelo tempo que você passou digitando já foi feito", diz a médica Liliana
Jorge.
O ortopedista procurado pela Beatriz chegou a prescrever um mês sem
celular. Mas a estudante nem cogitou a possibilidade. "Nem tentei [ficar
sem celular], mas comecei a fazer natação, porque o médico disse que
ajudaria na dor", diz ela.
Como ficar sem o celular não é opção para muitas pessoas além de
Beatriz, os médicos recomendam alguns cuidados: elevar o aparelho de
modo que o centro da tela fique na altura dos olhos e, assim, não
abaixar tanto a cabeça, e apoiar braços e antebraços para que não fiquem
sobrecarregados.
Além disso, exercícios para fortalecimento dos músculos, como ioga, pilates ou até mesmo a tradicional musculação, podem ajudar.
O médico Luiz Fernando Cocco, coordenador de ortopedia do Hospital
Samaritano, também recomenda pausas de 15 minutos cada vez que o usuário
passar mais de 40 minutos mexendo no celular.
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